"Queria dizer o quanto é importante esse encontro para mim, um encontro de afinidades", derrete-se Zélia no DVD (e CD, que acaba de ser lançado) Amigo é Casa (Biscoito Fino), em parceria com Simone.
O "derretimento" continua nos agradecimentos de Zélia no encarte do produto: "obrigada pelo privilégio de cantar ao seu lado". Apesar da reverência, é ela quem parece ser a força maior, a responsável pela cara final do projeto, uma realização de sonho.
Assim como foi cantar na vaga de Rita Lee (depois de já ter realizado o sonho de compor al lado da "ídala") nos Mutantes, e assim como foi lançar um selo próprio para realizar um disco do jeito que queria. E assim, de sonho em sonho, Zélia Duncan vai se realizando e consolidando com propriedade e através da verdade no posto de uma das mais interessantes artistas da musica brasileira.
Trata-se do registro o vivo de show da dupla, que deixa a impressão de um gostoso despojamento. Com elas bem à vontade. O astral destaca a música, as canções, reafirmando o óbvio: um bom repertório costuma ser imbatível. Astral esse também que parece combinar com a energia de entusiasmo Zélia, como percebemos na energia que ela revelou pelo menos nos primeiros momentos de sua recente investida com Os Mutantes.
"Fui fazer aquela maluquice toda", refere-se à fase em que esteve no meio do clã Dias Baptista durante entrevista para falar do novo lançamento.
A pegada de Amigo é Casa é rock, com guitarras à beça (herança da passagem pelas mãos de Sérgio Dias?), bateria na pressão (em Petúnia Reseda, de Gonzaguinha. O blues também está presente (em Mãos Atadas, de Simone Saback), com destaque para o solo de guitarra de Walter Villaça (que integrava a banda de Cássia Eller - mais maldito, impossível!). Inclusive, o show reserva uma homenagem à Cássia, em Gatas Extraordinárias (Caetano Veloso).
Astral ainda que rejuvenesceu a imagem da Simone ¿bom para apagar na memória afetiva de muita gente a lembrança de sua constrangedora versão Então é Natal, para Happy Xmas de John Lennon,. No vídeo, de fato ela parece fisicamente mais jovem, e está com a voz totalmente em forma.
Em vez de muitos números solos e poucos duetos quase sempre em uníssono, como no recente encontro de Maria Bethânia e a cubana Omara Portuondo, Zélia e Simone abrem as duas vozes e cantam lindos intervalos. Em meio à enxurrada de novas cantoras na nossa música, candidatas ao posto de "nova musa" ou "revelação", são as veteranas que trazem um trabalho relevante. Cantar bem, muitas cantam, mas com um timbre único, como Simone e Zélia, são poucas. Trabalhando com um bom repertório, é o sonho.
Poucas e boas musicas inéditas (como Kitnet, de Alzira E e Arruda), mas bastante releituras carinhosamente escolhidas, canções privilegiadas, que soam frescas, como é o astral do disco, bom de escutar. Às vezes essa virtude quase desanda, como em Cuide-se Bem (Guilherme Arantes), flerta com um astral "churrascaria" com teclado e só uma voz (Zélia), mas não ofusca o bom resultado final.
"Seria fácil juntar um repertório de sucessos, mas o nosso maior desejo era não banalizar esse encontro. Não estamos falando para as pessoas: 'cantem com a gente', e sim 'ouçam com a gente'", conta Zélia Duncan. A cantora disse ainda que o prazer e a crença no repertório justificaram o lançamento deste DVD, "em um mundo em que ninguém compra mais música", conclui.
Fonte: Terra
Data: 01/05/2008
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Simone e Zélia Duncan apostam em bom repertório para DVD